Terça-feira, dia 26 de agosto, cerca das 10h30, na zona de Marvão: Fabien foi mordido no dedo por uma víbora por volta dessa hora. Ligou de seguida para o 112, que remeteu a chamada para o CIAV, o serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que presta aconselhamento médico especializado sobre intoxicações.
Dessa chamada, confirmada pelo CIAV à SIC, resultou o encaminhamento para o Hospital de Portalegre e, segundo declarações do doente, a recomendação foi de administração de gelo até que a ambulância chegasse. Já em Portalegre, onde não havia o antídoto, foi visto, segundo relata, cerca das 11h30.
“Já estavam em contacto com a equipa do Hospital de São José quando estava a ser visto, não tinham o antídoto”, deu conta Fabien.
Em declarações à SIC, a responsável pelo CIAV, Fátima Rato, confirma que o “Hospital de Portalegre realmente, na altura, não tinha disponível o antídoto”tendo combinado com a equipa médica que iriam contactar os hospitais da região “para ver se teriam alguma ampola que pudessem dispensar”.
“Muitas vezes isto acontece [disponibilização de fármacos entre hospitais] para utilização imediata e depois o hospital faz a aquisição e devolve”, afirma a responsável detalhando que esta é uma gestão operacional.
Duas horas à espera de ambulância
No Hospital de Portalegre, enquanto era clinicamente observado, foram-lhe administrados analgésicos até ser reencaminhado para o Hospital de São José, em Lisboa, que já estava a par do seu caso.
O homem relata que foi aí que ocorreu o “maior caos” tendo esperado “mais do que duas horas” até chegar a ambulância para o transferir para a unidade hospitalar em Lisboa.
“No Hospital de São José cheguei por volta das 18h00, aí foi super rápido, fui diretamente para a cirurgia plástica”, conta à SIC elogiando os “cuidados muito bons” que tem recebido da equipa médica desde o primeiro momento no hospital lisboeta.
Passos seguintes? Identificar a víbora responsável pela mordidela: “Mostraram-me imagens para identificá-la e era uma víbora-cornuda.”
Apesar de o Hospital de São José ter antídotos para casos como este, segundo Fabien, “não tinham o antídoto mais indicado para este tipo de víbora”. Por isso, recorreram ao Hospital de Santa Maria porque, este sim, tinha o antídoto mais apropriado.
E o relógio não parou. Eram já perto das 20h00 quando o antídoto foi administrado.
Dores insuportáveis e risco de perder o dedo
Fabien relata à SIC as dores insuportáveis que este tipo de mordidela provoca, apontando que duraram “três dias” e, em alguns momentos, chegava a “chorar de dor”. O dedo de Fabien entrou mesmo em processo de necrose.
“Temia a amputação, mas os médicos acalmaram-me e disseram que tudo fariam para que tal não acontecesse”, apontou.
O homem ficou internado no São José e explica que no dia seguinte (27 de agosto) começou a fazer Oxigenoterapia Hiperbárica – um tratamento reconhecido como eficaz em casos de necrose -, mantendo-se a fazer este tratamento durante mais de uma semana.
Segundo afirma, foram-lhe administradas “três doses do antídoto, três doses de plasma e vários antibióticos” estando o tratamento ao dedo a evoluir favoravelmente e a recuperar “mesmo bem”. No início desta semana, a equipa médica decidirá quando será possível avançar para uma“pequena cirurgia para tirar o tecido morto e ver como reconstruir” o dedo.
Portalegre está a “desenvolver esforços” para ter antídoto
À SIC, o Hospital de Portalegre explica que os casos que têm ocorrido são “pontuais”, em particular na região do Parque Natural da Serra de São Mamede.
Confirma ainda “não dispor de antídoto para o veneno da víbora-cornuda”, mas garante que “quando estes casos acontecem, o Hospital de Portalegre segue todos os procedimentos protocolados, entre os quais a transferência das vítimas para outras unidades de referência”.
Por fim, sublinha que “atualmente, o antídoto existente está apenas disponível em hospitais centrais”, mas que estão “a desenvolver esforços para poder contar com a disponibilidade deste fármaco” na ULS Alto Alentejo.