Com mais uma edição do “Secret Story” prestes a terminar, Fábio Teixeira, escritor, usou as redes sociais para “arrasar” o canal pela forma como é tratado e gerido os reality shows da estação: “Não adianta berrar nas redes sociais, escrever comentários inflamados, atacar a produção, a apresentadora ou o programa como se isso fosse algum ato revolucionário. Não é. É apenas barulho. E barulho é precisamente o combustível que mantém a Casa dos Segredos viva. O que manda ali não é a verdade, não é a justiça, não é o mérito. São os números. Sempre foram.”, começou por escrever.“
A TVI não quer saber se o público se sente enganado, revoltado ou humilhado. Quer saber se o programa lidera audiências. Quer saber se é o mais comentado do dia. Quer saber se gera buzz, polémica, cliques, trends. Enquanto isso acontecer, tudo o resto é irrelevante. A indignação do público não assusta ninguém quando vem acompanhada do comando na mão, do tweet pronto a sair, do comentário no Instagram, da audiência fiel todas as noites.
E aqui entra a parte que custa engolir: a culpa é nossa. Não é só da produção, não é só da apresentadora, não é só de quem manda no canal. É do público que se diz farto, mas continua a ver.”, lê-se.
O escritor apontou o dedo ao canal de Queluz de Baixo: “Do público que se diz manipulado, mas continua a comentar. Do público que se diz desrespeitado, mas continua a fazer publicidade gratuita ao programa. Somos palhaços, sim. Palhaços úteis. Palhaços que reclamam enquanto sustentam o circo. Dizemos que “o público é quem mais ordena”, mas isso só é verdade quando o público sabe usar o único poder real que tem: desligar. Enquanto o vício for maior do que a revolta, enquanto o ódio for apenas mais uma forma de consumo, ninguém na TVI vai mudar uma vírgula. Pelo contrário: quanto mais polémica, mais manipulação. Quanto mais revolta, mais audiência. É um negócio frio, cínico e calculado.”
“A TVI deixou há muito de ser um canal feito para o público. É um canal feito para o ego de quem manda, para jogos internos de poder, para narrativas fabricadas e protagonistas escolhidos a dedo. O público já não é respeitado, é usado. Não é ouvido, é explorado. Não é valorizado, é contabilizado. Somos apenas números num gráfico, estatísticas num relatório, moeda de troca para anunciantes.
E o mais irónico é isto: quem está no “trono” só lá está porque nós continuamos a empurrá-los para cima. Continuamos a dar-lhes audiências, dinheiro e fama, enquanto fingimos que mandar bitaites nas redes sociais é algum tipo de resistência. Não é. É uma forma de colaboração passiva.”, acrescentou.
Por fim, rematou: “Se o público quisesse realmente ser ouvido, o programa já tinha morrido. Bastava usar o silêncio. Bastava só ver os números a cair. Isso sim assusta. Isso sim obriga a mudanças. Enquanto não percebermos isso, nada vai mudar. A Casa dos Segredos continuará a ser o que é. A TVI continuará a rir-se da indignação pública. E nós continuaremos a olhar para o ecrã, a comentar, a partilhar… convencidos de que mandamos alguma coisa, quando na verdade só estamos a manter o sistema de pé. A verdade é simples, dura e desconfortável: o programa só existe porque nós não sabemos deixá-lo morrer.”






